Há algumas semanas eu escrevi um texto descrevendo todas as possíveis estratégias de atualização de hardware dos consoles. No artigo, uma das hipóteses levantadas foi a de passarmos a ver novos videogames com mais frequência.

Aparentemente, é por esse caminho que a Microsoft vai seguir. Ao menos é o que deu a entender Aaron Greenberg, chefe do departamento de marketing do Xbox, em entrevista ao Engadget, durante a Gamescon 2016, que acontece esta semana em Colônia, na Alemanha.

A exemplo das atualizações futuras de videogames, a explicação será feita por partes. Primeiro de tudo, lembro que Phil Spencer afirmou, durante a E3, que todos os acessórios seriam mutuamente compatíveis entre todas as versões do Xbox One (original, S e Project Scorpio). Isso soa muito estranho, uma vez que já sabemos que óculos de VR só funcionarão no Project Scorpio. Esta é, inclusive, uma das características mais atraentes do futuro console.

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Greenberg explicou então que, na verdade, o que teremos é total retrocompatibilidade. Se você comprar um Xbox One S, vai rodar tudo o que já rodava no modelo original. Igualmente, se comprar um Project Scorpio, vai poder utilizar todos seus jogos e acessórios que já existiam pros modelos mais antigos.

“Vamos ter jogos exclusivos pro Project Scorpio? Bem, nós dissemos que não teremos exclusivos para ele. […] É um ecossistema. Tenha você um Xbox One S ou o Project Scorpio, nós não queremos que ninguém fique para trás. Agora, com o poder e as aptidões que nós temos, seremos capazes de prover VR com alta fidelidade. De qualquer forma, não enxergamos isso como ‘jogo de console’, o que nós pensamos disso é VR de alta fidelidade, com experiências de realidade virtual, que caracterizam novas coisas que você poderá ter no Project Scorpio”, disse Greenberg.

Phill Spencer na E3

Não sei vocês, mas me soou como uma tentativa de corrigir a declaração equivocada do Spencer durante a E3, sem querer bater de frente com a ideia previamente oferecida. “VR não é console, então não teremos jogos exclusivos de console”. Mas serão jogos exclusivos (ou, ao menos, com funcionalidade exclusiva) do Project Scorpio, a Microsoft entendendo isso como console ou não. Pode ser que seja compatível com o Scorpio e PC, mas certamente isso não vai rolar nos videogames mais antigos.

O fim da geração de consoles

Toad, como assim, mas e meus consoles, e meus jogos, acabou videogame, é o apocalipse!!1. Calma, cara, recomponha-se. O que Greenberg explicou é que, dentro da nova filosofia da Microsoft, continuaremos a ter videogames, mas não gerações de videogames. Sabe aquelas brigas que estávamos acostumados a ver no decorrer da história? Nintendinho x Master System? SNES x Mega Drive? PlayStation 4 x Xbox One? Isso aparentemente vai acabar.

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O que poderemos ter é um mercado muito mais parecido com a indústria de smartphones. Novos modelos lançados em um espaço de tempo bem mais curto, e quando você achar que seu celular, digo, videogame, já deu o que tinha que dar, compra o modelo mais novo. Não enxergamos todos os aparelhos lançados, digamos, entre Moto Z, Galaxy S7, iPhone 6s, como gerações igualmente equivalentes que competiam entre si, e sim modelos mais atuais da mesma linha.

Não temos a primeira, segunda, terceira, enésima geração de smartphones. Temos um mercado de smartphones.

“Pensamos o futuro sem gerações de consoles. Achamos que a habilidade de criar uma biblioteca, uma comunidade, de termos iterações de hardware é uma grande aposta. Estamos basicamente dizendo: ‘Essa não é uma nova geração, tudo vai continuar em frente e funcionando’. Pensamos nisso como uma família de dispositivos”, explicou Greenberg.

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Essa premissa toda floreada de que os jogos vão continuar funcionando nas versões mais novas me soa um tanto utópica. É só olhar o mercado de apps e novas funcionalidades que existem para modelos mais novos de celulares, mas que deixam donos de aparelhos antigos a ver navios. E não existe nenhuma fabricante que se salve neste quesito, nem a Apple, nem marcas de aparelhos que rodam Android.

Se vai ser diferente com a Microsoft, só o tempo dirá. Mas, lembro que nem com Windows 10, nem com o Windows Phone, ela soube gerir atualizações corretamente, o que me deixa com os dois pés atrás.

Resta saber agora se outras fabricantes, como a Sony e a Nintendo, também vão embarcar nessa estratégia de lançamentos de videogames com hardware melhor, em um espaço de tempo mais curto. Se assim for, de fato estamos presenciando o fim das gerações de consoles.

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