Estou de volta pra minha prometida segunda resenha sobre A Ascensão Skywalker, desta vez com todos os spoilers possíveis, assim se você ainda não tiver visto o filme, pare de ler ainda nesse parágrafo, e clique aqui pra ler meu texto sobre o Episódio IX sem maiores detalhes da trama.

Antes de falar sobre o filme em si, um desabafo. Vi muita gente falando que J.J. Abrams teria sido pouco ousado e até que teria faltado coragem ao cineasta, algo que eu discordo totalmente, ele simplesmente quis dar o próprio final para a história que ele criou no Episódio VII, e que acabaram sendo um caminho bem diferente no Episódio VIII.

O Episódio IX conseguiu reunir até mesmo pessoas que odeiam os dois anteriores, mas apesar dos críticos terem sido implacáveis, o público parece estar gostando da conclusão da saga, como mostra a nota da audiência no Rotten Tomatoes. Como falei no meu primeiro texto, eu gostei bastante do filme, e também da ascensão de Rey, que finalmente atinge todo o seu potencial ao final da trilogia.

Apesar de algumas picuinhas pessoais entre os diretores do Episódio VIII e IX, nada do que é mostrado em A Ascensão Skywalker descarta os eventos principais de Os Últimos Jedi, que inclusive são usados em muitas cenas do novo filme, como a ideia da união entre Rey e Kylo Ren ser extremamente poderosa e o conceito da conversa por telepatia que permite o teletransporte de objetos, ambos tratados com respeito e usados efetivamente na trama.

No novo filme, o espírito de Luke diz a Rey que ele tinha errado e sido covarde por não ter enfrentado seus medos e ter ficado na ilha exilado, mas não tem outra palavra para descrever seu exílio, por mais épica que tenha sido a sua volta com uma projeção Jedi que eu nem sabia que existia para enfrentar Kylo Ren e a Primeira Ordem no belo final do Episódio VIII.

Dark Rey e seu sabre de luz vermelho

Outro elefante na sala é o sobrenome Palpatine, e o fato de Rey ter uma ascendência poderosa na Força, mas sinceramente acho que isso é bem justificado ao longo da trama, e faz sentido com todas as visões que ela teve desde o Episódio VII.

Algo curioso é que no Twitter vi muita gente incomodada com o fato de Palpatine ter tido um filho ou uma filha em algum lugar do passado, e alegando que alguém bizarro como ele jamais iria arrumar um parceiro disposto a encarar toda a sua monstruosidade, e também questionando a timeline do nascimento dos pai ou mãe de Rey (não sei qual dos dois era o filho). Palpatine também pode ter optado por outras formas de concepção, quem sabe até realizando um plano criado para o caso de sua morte.

A verdade é que desde os seus tempos de Senador de Naboo, Palpatine é um personagem a procura de um herdeiro para passar todo o seu poder. Palpatine era tão obcecado por novos aprendizes, quanto por jogar uns contra os outros. Existe uma especulação de que o poderoso Sith estaria envolvido com o nascimento de Anakin Skywalker, e pra quem acredita em midi-chlorians, a outra opção é ele ser “filho da Força”, como é implicado no Episódio I.

A volta de Palpatine acontece nos primeiros minutos do filme, acho que para que todos tenham bastante tempo para se acostumar com a ideia. ‪O pessoal que acha inexplicável o Palpatine estar de volta ignora todo o papo dele sobre Darth Plagueis pro Anakin no Ep. III.

Tá bom, a volta do imperador falecido é um tremendo Deus Ex-Machina, e de certa forma diminui o impacto do final do Episódio VI, mas francamente, isso já tinha sido feito quando vemos que de nada adiantou derrotar o Império Galáctico, já que a Primeira Ordem surgiu das suas cinzas.

Sinceramente não vejo como J.J. iria criar outro vilão crível o suficiente para representar toda a ameaça que era necessária pra esse filme, e também para explicar o fiasco que foi o Líder-Supremo Snoke, que como se viu, era apenas uma marionete controlada por Palpatine, possivelmente pelo espírito dele.

Mas como Palpatine pode ter recuperado seu corpo? Possivelmente ele recuperou a energia liberada pela morte de Snoke, e ele também quem sabe se alimentava da energia Kylo Ren, já que em determinado momento diz ao novo Líder-Supremo que ele, Palpatine, estaria por trás de todas as vozes que ouviu na vida, um momento no qual se ouvem as vozes de Snoke e de Darth Vader, único momento do filme em que ouvimos a voz imortal de James Earl Jones. Qualquer que seja a forma, se até o Darth Maul conseguiu descolar uma cola ou um durex, por qual motivo o Imperador que era um Sith muito mais poderoso que ele não conseguiria?

O grande furo do roteiro em relação ao Palpatine pra mim é todo o seu poderio bélico. Se antes a ameaça de cada filme era uma Estrela da Morte ou uma base Starkiller, dessa vez é toda uma esquadra equipada com canhões capazes de obliterar planetas. Ao invés de uma arma aniquiladora de mundos, agora temos várias. Agora uma crítica ao filme. Mesmo aceitando a volta de Palpatine como eu claramente aceitei, fica difícil entender como ele criou uma grande força militar do nada, o que não tem explicação nenhuma na trama, tudo fica no ar mesmo.

Vi muita gente reclamando que Rey teria mais força não sendo descendente de ninguém, mas isso seria ignorar completamente a cena do Episódio VII na qual seus pais a deixam pra trás em Jakku, algo que Rian Johnson não teve nenhuma vergonha de fazer, mas que J.J. Abrams fez toda a questão de revisitar e ter a última palavra.

Durante muito tempo, se especulou que Rey seria filha de Obi-Wan ou quem sabe do Luke, mas sinceramente acho que o fato dela ser filha de um herdeiro do Palpatine faz até mais sentido, e engrandece a trilogia. Para quem odiou isso, lembro que apesar dos laços sanguíneos, em nenhum momento Rey se assume como Palpatine, pelo contrário, ela renega várias vezes a sua origem e ainda adota o nome Skywalker, algo muito justo inclusive.

A nova trilogia é essencialmente sobre Rey e sua descoberta, além da redenção de Ben Solo, que acaba dando a sua vida para salvar ela. Seu arco é incrível, ela realmente é tentada pelo Dark Side é quase sucumbe, mas seguindo os conselhos de Luke, resolve enfrentar seus medos e os supera de forma épica, com a ajuda de muitos Jedis que ficaram pelo caminho. ‬A ameaça do filme pra mim funciona bem, pois se Palpatine conseguir Rey para ficar ao seu lado, ele se tornará ainda mais poderoso.

O filme tem um monte de fan service? Claro, é o terceiro episódio da trilogia que a Disney criou para fazer a ligação entre os personagens clássicos, é normal que eles queiram agradar aos fãs. A trama foi escrita de acordo com o que os fãs esperavam? Acho que não, se fosse assim, o filme teria agradado ainda mais gente. Pra mim J.J. quis ir pelo seu próprio caminho, apesar de como sempre, usar pinceladas de outros filmes para dar o clima.

Rey e Kylo Ren lutam em cena de A Ascensão Skywalker

A Força está presente em A Ascensão Skywalker, tanto em Rey quanto em Kylo Ren/Ben Solo, mas poderia ser mostrada em outros personagens ao longo da trama, para reforçar o final do Episódio VIII, em uma espécie de democratização da Força. Bem mais do que nos outros filmes, Rey aqui se torna uma força da natureza, muitas vezes incontrolável, quando solta os raios que destroem a nave onde ela acreditava que Chewie estava, e que são a primeira indicação de sua ascendência imperial, digamos assim.

J.J. disse em uma entrevista na semana passada que o que Finn queria dizer para Rey era que ele estava sentindo a Força, mas acho que a coisa funciona muito melhor como friendzone mesmo, mas acho que ele poderia ter usado a Força no filme.

Rey em cena de A Ascensão Skywalker

É bem impressionante a cena que mostra o treinamento de Rey com pedras e também os ensinamentos de sua Mestre Leia, que aprendeu os caminhos da Força com seu irmão Luke, em um desdobramento que é não só justiça sendo feita com a personagem de Carrie Fisher, mas também a explicação para Rey ter se tornado uma personagem tão incrível e para a cena que muitos criticaram em Os Últimos Jedi, na qual Leia sai voando pelo espaço usando a Força.

Leia

Na minha resenha sem spoilers já falei bastante sobre Carrie Fisher e Billy Dee Williams, mas meu sentimento em relação aos dois personagens e seus intérpretes é de muita grande gratidão. Me emocionei em absolutamente todas com nas cenas com a General Leia, e poderia fazer outro texto de mais 2500 palavras só sobre os poucos minutos dela no filme.

J.J. também fez questão de fazer algumas reparações históricas no filme, a principal delas a medalha que Chewie inexplicavelmente não recebeu no final do Episódio IV, que começou toda essa saga. O fato dele receber a medalha das mãos da Maz Kanata mostra que a personagem era como uma memória viva da Galáxia que ela inclusive ajudou a salvar, dando o sabre de luz de Luke para ele.

O filme também nos apresenta o sabre de luz de Leia, que certamente vai virar brinquedo, afinal até o sabre dark que Rey usa em um sonho já virou. Também pode apostar que teremos o sabre de luz amarelo do fim do filme.

Kylo Ren

Algo que eu não estava esperando era a aparição do fantasma de Han Solo, que também me deixou muito feliz. Muitos chamam esse pequeno trecho do filme de fan service, mas pra mim a única maneira de eu perdoar Kylo Ren, ou melhor, Ben Solo pela morte do pai era se ele aparecesse e os dois se entendessem. Naquele momento, senti pela primeira vez que Kylo Ren era filho de Ben e Leia, algo que fortaleceu inclusive o primeiro filme da trilogia final.

Gosto muito do espaço dado a C-3PO em A Ascensão Skywalker. Vi muita gente chiando sobre o fato do dróide sua memória apagada em uma cena tocante, só para recuperá-la depois quando encontra com R2. Pra mim isso serve como um presente ao personagem, que já tinha tido sua memória apagada no final da trilogia prequel, terminar a saga sem que ele lembrasse de nada seria muita maldade com o dróide que marcou a vida de muita gente, incluindo a minha.

Babu Frik

Como sempre, não podem faltar criaturas fofas em Star Wars, e o representante da vez é Babu Frik, um técnico de dróides que aparece para encantar a plateia quando precisa retirar uma mensagem Sith da memória de C-3PO. Infelizmente seu planeta Kijimi explode, mas como Zorii Bliss, a personagem de Keri Russell consegue escapar para o grande final, tudo indica que ele também tenha saído do planeta, ou pelo menos é o que prefiro acreditar.

Sim, eu sei que a maioria dos críticos estão com a faca nos dentes com esse filme, e muitos fãs de verdade da saga também ficaram revoltados, mas cinema é uma experiência de cada um, e o gosto pessoal de cada pessoa deve ser respeitado.

Aceito todos os argumentos de quem não embarcou nessa viagem, mas conheço muita gente que adorou, e que assim como eu, não entende tão bem toda essa revolta com o filme. Pra mim, J.J. criou o desfecho que imaginava para os personagens que ele gostava quando era criança e também pros novos que ele criou com Lawrence Kasdan em O Despertar da Força.

A nova trilogia poderia ter sido muito diferente? Poderia, a minha por exemplo seria mais focada na galera old school (por motivos óbvios), mas agora que tudo terminou, fico feliz de ter conhecido personagens como Rey, Kylo Ren/Ben, Poe e Finn, além de Rose, que infelizmente nesse filme praticamente só faz figuração.

Finn em cena de A Ascensão Skywalker

A verdade é que os próprios Finn e Poe aparecem bem menos do que deveriam, mas é o preço que se paga para ter um filme frenético que tem a ambição de fechar uma saga de nove filmes feitos ao longo de 42 anos. É uma pena que os novos personagens não tenham tempo em cena para fazer a diferença, e que Lando não apareça mais, mas realmente deve ter sido difícil encaixar tanta coisa em um só filme.

Na cena da luta final, Rey precisa enfrentar não só Palpatine fortalecido por ter drenado seus poderes e os de Ben Solo, mas também sua própria dúvida em relação ao seu poder. Quando tudo parece perdido e o Império Galáctico está prestes a ressurgir, Palpatine descobre que os antigos mestres Jedi continuam vivos em Rey, que escuta várias vozes de mestres para lembrá-la disso.

Nesse momento, Rey escuta as vozes de Mace Windu (Samuel Jackson), Yoda (Frank Oz), Qui-Gon (Liam Neeson), Obi-Wan (tanto na versão original de Alec Guinness quanto na versão prequel de Ewan McGregor), e é claro, Anakin Skywalker (Hayden Christensen).

Também escutamos as vozes de outros Jedis, fazendo justiça com as ótimas séries de animação de Dave Filoni, com destaque para Ahsoka Tano (Ashley Eckstein) e Kanan Jarrus (Freddie Prinze Jr), além de Luminara Unduli (Olivia D’Abo), Aayla Secura (Jennifer Hale), Adi Gallia (Angelique Perrin).

A épica batalha espacial

A cena final de batalha no espaço evoca O Retorno de Jedi, e quando tudo parece perdido, a união entre Ben e Rey (que no meio do filme descobre que tem habilidades curativas, assim como Baby Yoda no episódio da semana passada de O Mandaloriano) funciona como uma corrida de revezamento, no qual os dois se alternam para salvar um ao outro e assim Rey conseguir finalizar com a ameaça de uma vez por todas… Pelo menos até a próxima trilogia.

Cena de A Ascensão Skywalker

Gosto do final da saga ser em Tatooine, um planeta fundamental para toda a história dos Skywalker e por consequência, na luta dos rebeldes pela liberdade na galáxia. O fato de Rey escolher a morada dos Skywalkers é um tributo aos seus mestres e também a Ben Solo.

Pra ficar melhor, eu só teria reunido todos os fantasmas da Força, para mostrar que aquelas vozes que ela escutou na hora da luta ainda estariam do seu lado, mas entendo a decisão de mostrar apenas a dupla Luke e Leia, deixando até o coitado do Ben de fora. Ah, eu também teria tirado a velha senhora que pergunta o sobrenome de Rey.

Com seus erros e acertos, o Episódio IX sinceramente entregou pelo menos o que eu queria, um final digno e honrado para a saga que eu gosto desde que era criança, além de um filme com muitos trechos de emoção, como tem que ser na despedida de tantos personagens queridos.

Rey contra Kylo Ren

Como falei lá no começo do texto, foi meio ridículo ver a briguinha entre Rian Johnson e J.J. Abrams por conta de alguns rumos diferentes, mas nada que pra mim estrague nenhum dos dois filmes, e nem os rumos finais da trilogia. A minha sensação sincera ao final da trilogia Disney é a mesma que tive ao final da trilogia prequel, que essa é uma história que merecia ser contada.

Ao invés de ódio, sinto muita gratidão por essas duas trilogias existirem, e Star Wars não ter acabado nos anos 80. Isso pra não falar dos excelentes Rogue One e O Mandaloriano e da possibilidade de novos filmes e séries épicas.

Agora teremos um hiato de alguns anos antes do próximo lançamento de Star Wars nos cinemas, mas a saga continua viva e forte no Disney+ com as aventuras de Mando e Baby Yoda, e em breve com a nova e esperadíssima série do Obi-Wan em Tatooine, sem esquecer da série spin-off de Rogue One e das outras séries que virão.

Até lá, que a Força esteja com vocês!



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