Kingdom Hearts 3 chega ao PS4 e Xbox One (sem versão para PC) após 13 anos de espera desde o último jogo lançado para um console de mesa, Kingdom Hearts 2, para PlayStation 2. A jornada do personagem principal, Sora, junto dos fiéis escudeiros Pato Donald e Pateta chega a uma conclusão épica que justifica este intervalo. A análise a seguir busca avaliar a história e cronologia do game da Square Enix, que se passa dentro de fases inspiradas em filmes da Walt Disney, como Frozen, Toy Story, Monstros S.A., Enrolados, Operação Big Hero, Piratas do Caribe, Hércules e Ursinho Pooh. Jogabilidade e gráficos também são levados em conta, assim como a importância da personalidade do protagonista para o enredo. Kingdom Hearts utiliza a eterna luta entre Luz e Trevas como metáfora para ensinar uma lição sobre laços e amizade. Por isso, o título é muito mais que apenas um jogo de ação e aventura que mistura elementos de Final Fantasy com figuras famosas da empresa criadora de Mickey Mouse. 

Sora, Pato Donald e Pateta se unem para a última batalha (Foto: Reprodução/Murilo Tunholi)

Afinal, qual é a história de Kingdom Hearts?

Em um mundo onde Luz e Trevas estão em constante conflito, um grupo maligno chamado Organization XVIII tem como objetivo abrir o Reino dos Coração, ou Kingdom Hearts, para fazer com que tudo seja consumido pelas sombras e não haja mais luz para afastá-las. O protagonista, Sora, empunhado de sua Keyblade – uma espada em formato de chave com poderes mágicos, precisa impedir que o principal inimigo, Mestre Xehanort, use a organização para começar uma guerra entre usuários da arma especial e obtenha a χ-blade (pronuncia-se Keyblade), que abre o portal para Kingdom Hearts.

O enredo da franquia é complicado de entender, pois se trata de uma história densa e profunda com viagens no tempo e personagens com mais de uma identidade que foi dividida em nove jogos diferentes. Além disso, a data de lançamento de cada um não é referente ao período da história em que se passam. Kingdom Hearts 3 foi pensado com o objetivo de costurar as pontas soltas e concluir a jornada dando fim no confronto contra as trevas que começou em 2002. Para explicar tudo o que já aconteceu, a Square Enix decidiu lançar diversas coletâneas para o PS4 que contam com todos os games já lançados até hoje. Também há vídeos explicando um pouco os acontecimentos passados logo no menu principal.

Sora deve derrotar os Heartless em Kingdom Hearts 3 (Foto: Reprodução/Murilo Tunholi)Sora deve derrotar os Heartless em fases como o quarto do Andy, de Toy Story (Foto: Reprodução/Murilo Tunholi)

A nova jornada de Sora começa com muitos flashbacks para tentar situar o jogador dentro da narrativa, mas ainda pode não ser suficiente para quem escolheu este jogo como porta de entrada para a série. Kingdom Hearts 3 não deixa de ser um ótimo jogo para começar, mas a experiência é completamente diferente caso seja conhecedor da franquia. Na situação em que se encontra, o criador do jogo, Tetsuya Nomura obedece ao ditado popular que diz não ser possível agradar a gregos e troianos. Decisões precisaram ser tomadas e os fãs ficaram em primeiro lugar.

O capítulo final começa logo após os acontecimentos de Kingdom Hearts Dream Drop Distance, para Nintendo 3DS, em que Sora falha no teste para se tornar um Mestre das Keyblades e perde parte dos poderes que havia acumulado desde o início da aventura. Agora, a tarefa do herói é visitar os mundos inspirados em filmes da Disney e ajudar a resolver os problemas causados pela Organization em cada um deles. Pode parecer loucura, mas o criador do jogo, Tetsuya Nomura, conseguiu encaixar perfeitamente as ações dos inimigos no enredo já conhecido dos filmes.

Os mundos podem ser visitados por meio do Gummi Ship (Foto: Reprodução/Murilo Tunholi)Os mundos da Walt Disney podem ser visitados por meio do Gummi Ship (Foto: Reprodução/Murilo Tunholi)

A ambientação dos mundos Disney

A franquia é famosa pela presença de universos inspirados nos longa-metragens da Disney. Kingdom Hearts 3 continua com a mesma fórmula e a executa da melhor forma possível. Todos os mundos, assim como as relações entre os personagens inseridos neles, fazem sentido para a história final. Desde a amizade de Woody e Buzz Lightyear com o dono Andy em Toy Box, até os sentimentos de amor verdadeiro entre as irmãs Elsa e Anna em Arendelle são necessários para que o enredo se desenvolva. As propriedades curativas do cabelo de Rapunzel são visados, assim como a produção de energia por meio das emoções em Monstrópolis. Para completar, os corações de Dave Jones e Baymax são os principais meios que a Organization possui para estudar os sentimentos. E tudo isso acontece de forma natural.

O Reino de Corona está presente em Kingdom Hearts 3 (Foto: Reprodução/Murilo Tunholi)O Reino de Corona, de Enrolados, está presente em Kingdom Hearts 3 (Foto: Reprodução/Murilo Tunholi)

Os mundos no terceiro título são os que mais se diferem dos que estão incluídos nos jogos já lançados. São oito universos Disney: quatro completamente inéditos e quatro que já apareceram anteriormente. Cada um deles pode ser jogado de forma independente, pois eles se conectam apenas na parte final. Além disso, após completar todos os objetivos de um universo, você é presentado com uma Keyblade temática com poderes únicos que permitem estratégias diferentes. Há armas para todos os estilos de gameplay, seja para combate corpo-a-corpo ou focadas em dar dano a distância.

A marca registrada dos RPGs da Square Enix são as lutas contra os chefões de cada fase e, aqui, isso não é diferente. No final de cada mundo há um chefe para ser derrotado. As primeiras batalhas são fáceis, mas a curva de dificuldade aumenta a cada desafio até o último segundo de jogatina. Não pense que irá ver a mesma mecânica em dois inimigos diferentes, pois isso não acontece em momento algum. Até mesmo os pequenos Heartless que surgem durante a exploração são únicos e representam o ambiente em que estão inseridos.

Os inimigos são diferentes em cada mundo (Foto: Reprodução/Murilo Tunholi)Os inimigos são diferentes em cada mundo, como em Operação Big Hero (Foto: Reprodução/Murilo Tunholi)

A ingenuidade preciosa de Sora

Por mais que os personagens originais criados por Nomura tenham características que lembram outros já vistos em jogos da franquia Final Fantasy, Sora caminha contra esse lugar comum e tem a personalidade de um adolescente que não conhece muito sobre o mundo. A ingenuidade e inocência do protagonista faz com que todos os sentimentos de amor e amizade sejam verdadeiros e aumentados ao máximo. Não há nada em Kingdom Hearts que não seja resolvido com o poder unido dos amigos, e não tem problema, pois esse é o sentido do jogo.

Sora conquista a todos em Kingdom Hearts 3 (Foto: Reprodução/Murilo Tunholi)Sora conquista a todos os brinquedos de Toy Story em Kingdom Hearts 3 (Foto: Reprodução/Murilo Tunholi)

O principal ponto positivo de Sora como protagonista é que o garoto nunca se deixa levar a sério demais. Mesmo lutando contra as trevas, enfrentando perdas e desafios cada vez mais difíceis, o jovem mantém o bom humor e o sorriso no rosto. Esse carisma faz com que todos os personagens que já apareceram tenham alguma conexão com Sora, e essas ligações são o que tornam os games especiais. Até mesmo em títulos que o protagonista não aparece, como é o caso de Kingdom Hearts 358/2 Days, para Nintendo DS, é possível ver que, se não houvesse Sora, não existiria história.

Mesmo alguns anos mais velho, Sora ainda é uma das melhores partes de Kingdom Hearts 3. É possível sentir a evolução e amadurecimento do pequeno garoto que havia reprovado no teste para se tornar mestre. A angústia que ele sente sempre que o lembram do fracasso é clara, mas a vontade de levantar novamente e ajudar os amigos é maior. A ideia de Nomura pode ser mostrar que há um pouco de Sora dentro de todos, e que é necessário mostrá-lo mais vezes.

A inocência de Sora é a melhor característica do personagem (Foto: Reprodução/Murilo Tunholi)A inocência de Sora, parecida com a de Baymax, é a melhor característica do personagem (Foto: Reprodução/Murilo Tunholi)

E a jogabilidade?

O tempo investido em concluir o enredo não fez com que o gameplay recebesse menos carinho. O combate é o mais avançado até hoje e faz tudo o que os jogos anteriores fazem, só que melhor. Todos os sistemas estão presentes, desde as diferentes Keyblades, magias e até mesmo os Links, habilidades que permitem invocar ajudantes como Wreck-it Ralph, Ariel, Simba e Stitch durante o combate. Até mesmo os Dream Eaters que apareceram pela primeira vez em Kingdom Hearts 3D estão de volta.

Além de mecânicas que retornaram, há também recursos inéditos, como o uso de atrações dos parques da Disney que podem ser invocadas em algumas situações. Você pode bombardear os inimigos com fogos de artifício da montanha-russa, deixá-los tontos com as xícaras rodopiantes, usar um navio pirata para arremessá-los no ar, entre outras opções que deixam o combate extremamente divertido.

O Carrossel Mágico é uma das atrações dos parques da Disney (Foto: Reprodução/Murilo Tunholi)O Carrossel Mágico é uma das atrações dos parques da Disney (Foto: Reprodução/Murilo Tunholi)

As experiências de Sora só acumularam recursos para serem usados na batalha final e, em alguns casos, pode parecer muito, mas o objetivo é permitir que o jogador escolha como prefere jogar. Se gostar mais de magias, invista em MP e Elixires para recuperá-lo. Caso prefira deferir espadadas nas criaturas, escolha habilidades que melhores a movimentação e defesa. Kingdom Hearts 3 tem muitas opções, mas todas elas são opcionais e podem ser alternadas no meio do jogo sem problema algum.

Os mini games também estão de volta e cumprem o papel de quebrar a rotina de combates seguidos. O Gummi Ship, a nave espacial que Sora usa para se locomover pelos mundos, tem mecânicas próprias e pode ser customizado inteiramente. Você pode até mesmo criar um do zero usando apenas blocos, como se fosse um jogo de montar. Também é possível perder um bom tempo nos mini games de cada mundo, como velejar pelos mares do Caribe com o navio e tentar pontuar cada vez mais nos circuito de corrida de SanFransokyo.

Mini games clássicos de Kingdom Hearts 3 (Foto: Reprodução/Murilo Tunholi)Mini games clássicos de Kingdom Hearts 3 (Foto: Reprodução/Murilo Tunholi)

Gráficos e trilha sonora fazem parte da experiência

A qualidade gráfica de Kingdom Hearts 3 é um dos pontos fortes do game. Cada personagem da Disney parece ter saído diretamente dos longa-metragens e todo o design do jogo acompanha o estilo de cada mundo. O que mais impressiona é a mudança do estilo cartunesco para o realista assim que Sora desembarca no mundo de Piratas do Caribe. Os gráficos do ambiente assim como os modelos dos personagens parecem ter saído de um jogo completamente diferente.

Pequenos detalhes, como pegadas na neve, raios de sol e partículas de luz na tela fazem a diferença. Seja no fundo do oceano ou no meio das nuvens, tudo foi pensado para transmitir a melhor qualidade gráfica possível. Algumas cenas são dignas de ficar apenas admirando, como é o caso da recriação de “Let It Go”, no mundo de Frozen.

Kingdom Hearts 3 tem gráficos realistas em certas situações (Foto: Reprodução/Murilo Tunholi)Kingdom Hearts 3 tem gráficos realistas nas fases de Piratas do Caribe (Foto: Reprodução/Murilo Tunholi)

Por falar em música, Kingdom Hearts sempre teve trilha sonora memorável, principalmente as canções de abertura “Simple and Clean” e “Sanctuary”, todas interpretadas pela cantora Hikaru Utada. As trilhas do jogo são bem trabalhadas e deixam aquele sentimento de nostalgia sempre que tocam. A experiência de explorar o mundo inspirado em Toy Story e ouvir a versão instrumental de “Amigo Estou Aqui” torna tudo mais recompensador. A mistura de universos diferentes encanta tanto os fãs do jogo quanto os admiradores dos trabalhos da Disney.

Os temas de Hikaru Utada também retornaram e podem ser ouvidos durante algumas cenas. Mas as merecedoras de destaque são as inéditas “Don’t Think Twice”, que, com um ritmo suave, serve como encerramento para a história. E, para o início, a cantora abre o game com “Face My Fears”, que transmite toda a ação e energia na música que é uma parceria com Skrillex, famoso pelos trabalhos com o ritmo eletrônico.

Conclusão

Kingdom Hearts 3 é a conclusão perfeita para uma série que tocou o coração de jogadores e hoje faz parte do repertório de muitos que se divertiram com o PlayStation 2. O título é obrigatório para os fãs da franquia, mas também não deixa de ser um bom ponto de partida para os que chegam agora. Há inúmeras formas de se atualizar sobre o enredo, seja jogando as coletâneas disponíveis para PS4 ou assistindo a vídeos na Internet. Após muita espera, a inusitada mistura entre Square Enix e Disney está em sua melhor forma.

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