Você já pensou em ter um smartphone holográfico? Não, né? Até porque, convenhamos, parece desnecessário. Mas pesquisadores da Universidade de Queen, no Canadá, escolheram justamente um dispositivo móvel como protótipo para uma tecnologia de tela holográfica. E não é que o resultado é bastante interessante?
O dispositivo foi convenientemente batizado como HoloFlex: além do efeito holográfico, a tela é flexível, permitindo que o aparelho como um todo também o seja. Assim, dentro de um certo limite, você também pode dobrar o smartphone.
A flexibilidade não gera distorções nas imagens da tela ou qualquer outro efeito indesejado. Na verdade, essa característica pode até auxiliar na exibição do conteúdo. A holografia é uma técnica utilizada há anos para gerar efeito de tridimensionalidade em uma imagem — você já deve ter visto algo do tipo em canecas promocionais ou em painéis publicitários, por exemplo. No caso do HoloFlex, os elementos da tela obedecem aos movimentos de torsão, ajudando a criar efeitos visuais mais realísticos.
Para compreender melhor a ideia, imagine que você está vendo um rosto na tela. Ao virar o aparelho um pouco para o lado, mais detalhes do rosto surgem. É como se a pessoa que aparece na imagem estivesse virando a cabeça. Ainda não entendeu? Então veja na prática:
Muito bacana, não? A “bruxaria” aqui não é difícil de entender. A tela é composta por um painel FOLED (Flexible Organic Light Emitting Diode) com 1920×1080 pixels de resolução. Mas as imagens em si acabam sendo exibidas em minúsculos blocos circulares elevados com 12 pixels cada um.
Criados em impressora 3D, esses blocos foram organizados de modo a formar uma matriz de 16 mil elementos. É como se houvesse 16 mil lentes olho de peixe ali. O resultado final é um painel que exibe imagens com efeito 3D em uma resolução de 160×104 pixels. O conteúdo acaba ficando excessivamente pixelado, sem definição, mas mesmo assim é possível notar o aspecto holográfico.
Se levarmos em conta as aplicações que temos hoje, essa é uma resolução muito limitada. Mas, em relação ao HoloFlex, os 160×104 pixels são suficientes para demonstrar como o usuário pode, por exemplo, analisar um objeto a partir de qualquer ângulo simplesmente virando o celular (ou outro dispositivo com o mesmo tipo de tela).
Para dar conta de tudo, a Human Media Lab, departamento da Universidade de Queen responsável pelo projeto, equipou o smartphone com processador Snapdragon 810 de 1,5 GHz, GPU Adreno 430 e 2 GB de RAM. O sistema operacional é o Android 5.1. Como dá para perceber, não é necessário nenhum hardware especial para rodar aplicações holográficas, com óbvia exceção para a tela.
Pelo menos no atual estágio, é impraticável transformar o HoloFlex em um produto comercial: como já deixado claro, uma resolução tão baixa não atende às aplicações móveis que temos hoje. Mas, para o professor Roel Vertegaal, um dos idealizadores do projeto, a tecnologia poderá ser empregada em uma série de atividades quando estiver mais evoluída.
Ele acredita, por exemplo, que o display poderá ajudar na modelagem de itens que posteriormente serão produzidos em impressoras 3D. Nesse caso, a imagem holográfica daria uma noção mais realista das dimensões do objeto. Para complementar, vários usuários poderiam examinar o modelo 3D na tela ao mesmo tempo com cada um deles tendo um ângulo de visão diferente.
Vertegaal menciona outra possível aplicação: dar mais realismo às videoconferências. Talvez não seja muito relevante visualizar todo o rosto de cada participante a partir de qualquer ângulo, mas se um projeto de um produto estiver sendo discutido, a imagem holográfica poderia mostrar com grande precisão os modelos propostos.
Talvez seja possível até criar algo interessante para games. Se você assistiu ao vídeo de demonstração na íntegra, viu Angry Birds sendo jogado no HoloFlex de um jeito totalmente inesperado: como o celular é flexível, bastou ao jogador dobrar o aparelho para lançar o pássaro nervosinho em direção aos porcos.
Com informações: The Verge