É o fim da GVT. A partir de 15 de abril, a empresa passa definitivamente a se chamar Vivo, concluindo um processo de troca de marca que se intensificou nas últimas semanas. A GVT, construída do zero no Brasil por Amos Genish, era famosa por sua qualidade e ganhou sucessivos prêmios de melhor banda larga.
A GVT é fundamental na estratégia de expansão da Vivo no Brasil, que passa a oferecer serviços de banda larga, TV e telefone fixo para fora do estado de São Paulo.
Para entender melhor a fusão e todas as mudanças que estão por vir, o Tecnoblog entrevistou Christian Gebara, Chief Revenue Officer da Telefônica Vivo, que foi o responsável pela sinergia entre as duas empresas. O executivo nos dá detalhes de como serão os planos de telefonia móvel que estão por vir, a escolha de tecnologias para melhorias, a expansão de fibra ótica e outros assuntos.
Um dos pontos mais importantes da entrevista são os questionamentos acerca da polêmica franquia na banda larga fixa, que se encontram no final do artigo. Em muitos momentos, Gebara desconversou sobre o assunto e manteve firme o posicionamento da empresa. O assessor de imprensa, que mediava a conversa, interrompeu a entrevista. Boa leitura.
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Fusão
Tecnoblog: Qual foi o maior ganho entre a fusão da Vivo e GVT?
Christian Gebara: A Vivo era uma operadora móvel, com uma operação de serviços fixos concentrada apenas no estado de São Paulo. Com a compra da GVT, podemos nos consolidar como uma operadora 5P, com 5 produtos: fixo, banda larga, TV por assinatura, telefone móvel e aplicativos. Juntamos duas marcas líder em categorias distintas em uma única operação.
Clientes com serviço fixo triple-play terão 1 GB extra nos planos móveis.
Tecnoblog: Quais são os ganhos para o cliente?
Gebara: A partir de 15/04 teremos um novo portfólio de planos. O cliente poderá ir numa loja da Vivo e contratar todos os serviços que precisa, como banda larga fixa, TV e celular e ter um contrato com uma única operadora. O cliente de serviços fixos terá acesso ao Vivo Valoriza e bônus na franquia de internet móvel.
Tecnoblog: No dia 15/04 a operadora irá lançar novos planos?
Gebara: Sim. E clientes com serviço fixo triple-play terão 1 GB extra nos planos móveis. Em planos de 5 GB a 10 GB serão 2 GB adicionais. Além disso, quem tiver triple-play terá 50% de desconto na mensalidade do MultiVivo (serviço que permite compartilhar o plano com linhas adicionais).
Tecnoblog: Os dois principais concorrentes oferecem combos quadri-play, com TV, fixo, internet e móvel. A Vivo também irá seguir esse caminho?
Gebara: Clientes do triple-play terão desconto de 25% na mensalidade dos planos. Ainda não temos um combo fechado com os quatro serviços, mas teremos um empacotamento desse tipo no final do ano.
Tecnoblog: Com a compra da GVT, a Vivo pretende aumentar o backhaul de fibra ótica para sua rede móvel?
Gebara: Sim. Essa foi uma das vantagens da fusão. Além disso, poderemos atender demandas do mercado corporativo em última milha, algo que não era possível sem a GVT.
Tecnoblog: O GVT Freedom [aplicativo que virtualiza a linha fixa no smartphone] será disponibilizado para clientes do Vivo Fixo de SP?
Gebara: No momento não, por falta de compatibilidade técnica entre outros sistemas. Estamos estudando integrar o Freedom ao TU Go [que virtualiza a linha móvel num aplicativo].
TV por assinatura
Tecnoblog: A Vivo passou a ter duas diferentes plataformas de TV por assinatura: uma com o satélite Amazonas (Vivo TV) e outro com o Intelsat 34 (GVT). Ainda, existem diferentes line-ups de canais em cada uma dessas plataformas. A Vivo optará por qual?
Gebara: Ainda não optamos por qual plataforma iremos seguir. No entanto, os canais oferecidos serão os mesmos tanto para clientes GVT como Vivo TV. A novidade é que, a partir de maio, levaremos a plataforma DTH Conectado também para São Paulo, com acesso ao Vivo Play.
Tecnoblog: Alguns usuários apontam que surgiu recentemente um aplicativo do YouTube no decodificador da GVT. Isso é verdade? A operadora irá disponibilizar isso para os clientes?
Gebara: Estamos com um piloto em andamento com 3 mil clientes, mas não anunciamos nada oficialmente no momento.
Tecnoblog: O site da Vivo anuncia o gravador multiroom como um dos recursos disponíveis. Isso será levado para os clientes GVT (DTH) ou apenas pela fibra ótica?
Gebara: No momento, apenas para fibra ótica. Não há perspectiva de levar o gravador multiroom para clientes DTH.
Tecnoblog: Com isso, a Vivo pretende expandir o serviço de IPTV para fora de SP?
Gebara: Não estamos anunciando nada no momento. Estamos bem confortáveis com o modelo atual, e pretendemos continuar com ele.
Banda larga
Tecnoblog: A GVT começou há pouco tempo a comercialização de banda larga através de GPON. A rede ainda estava sendo construída, com a cobertura crescendo aos poucos. A Vivo pretende expandir essa rede?
Gebara: Sim. Todas as cidades que serão atendidas pela Vivo em serviços fixos será feita cobertura por meio de fibra ótica.
Tecnoblog: E nas áreas onde a GVT atua com cobre?
Gebara: Haverá uma expansão, mas não será em 100% da rede.
Tecnoblog: Muitos usuários do Speedy em São Paulo são atendidos com velocidades baixas, alguns com velocidades máximas de até 2 Mb/s e sem perspectiva de cobertura de fibra no local. O que a operadora irá fazer para melhorar isso?
Gebara: Essa é uma boa pergunta. Estamos com um cronograma de um piloto de FTTC*. Nessas áreas o serviço se chamará Vivo Fibra, permitindo velocidades que iniciam em 15 Mb/s.
*Fiber to the Curb. É a mesma tecnologia usada pela GVT e Live TIM que leva a fibra ótica mais próxima da casa do cliente.
Tecnoblog: A operadora pretende usar G.fast? É uma tecnologia que permite velocidades de até 1 Gb/s via par de cobre, dependendo da distância do cliente até a central.
Gebara: Eu não conheço a tecnologia, mas certamente a área de planejamento considera tudo isso na avaliação. Não sei lhe responder sobre isso.
Tecnoblog: Na segunda-feira a operadora apresentou seus planos de banda larga com velocidade de upload bem maior do que o tradicional: 7 Mb/s (no plano de 15 Mb/s de download), 12 Mb/s (no plano de 25 Mb/s) e 25 Mb/s (no plano de 50 Mb/s), que na GVT tinham 1, 2 e 5 Mb/s de upload, respectivamente. Essas velocidades novas também serão disponibilizadas para clientes com tecnologia VDSL2+ ou apenas para quem tem fibra?
Gebara: Não sei responder isso. Posso lhe passar essa informação depois?
Tecnoblog: Sem problemas.
A operadora informou ao Tecnoblog que, no acesso por par metálico, os uploads continuam sendo de 1 Mb/s, 2 Mb/s, e 5 Mb/s para as velocidades de 15 Mb/s, 25 Mb/s e 50 Mb/s, respectivamente. As taxas mais altas só serão disponibilizadas para clientes com a tecnologia FTTH.
Franquia na banda larga
Tecnoblog: Um dos maiores selling points da GVT era que sua banda larga não tinha limite de tráfego. Até fevereiro de 2016, a Vivo também não tinha limite de tráfego e passou incluir isso nos novos contratos. Por quê?
Gebara: Essa é uma tendência mundial. Grandes operadoras no mundo, inclusive do Grupo Telefônica, já estão acabando com o tráfego ilimitado e adotando franquias. A ideia é que o consumo seja como uma conta de luz, onde o cliente pagará apenas o que precisar.
Tecnoblog: Isso não irá atingir muitos usuários?
Gebara: Isso irá atingir uma porcentagem muito baixa dos nossos usuários, e beneficiará quem faz uso leve, como emails e navegação. Quem faz uso de streaming de vídeos, por exemplo, naturalmente terá que pagar mais.
Tecnoblog: O site Manual do Usuário fez uma estimativa de tráfego de que uma pessoa, sozinha chega a consumir mais de 150 GB por mês numa banda larga de 5 Mb/s com uso básico. Os planos da Vivo especificam 50 GB de tráfego para uma banda larga de 4 Mb/s e míseros 100 GB para uma banda larga de 10 Mb/s. Não é muito pouco?
Gebara: Posso te garantir que esse cálculo está errado. Fizemos uma análise de consumo na nossa rede e esse dado é exagerado.
Tecnoblog: O download de um único jogo na Xbox Live ou na PlayStation Network pode passar de 50 GB. Um cliente baixa um jogo e acaba com toda a franquia de banda larga.
Gebara desconversou.
Um cliente baixa um jogo e acaba com toda a franquia de banda larga.
Tecnoblog: O que vejo de problemático nessas franquias é que elas são associadas a velocidades: para ter franquia maior, é obrigatório contratar velocidades mais altas, o que muitas vezes não é possível devido a condições de viabilidade técnica ou mesmo distância até a central. Quem mora longe de centrais será prejudicado por não ter opções de escolha ou a Vivo terá algum tipo de conduta diferenciada para esse usuário?
Gebara: Certamente iremos desenvolver alguma solução para isso, nessas áreas onde o usuário pague por franquia e não pela velocidade. Em áreas onde oferecemos velocidades maiores, onde o cliente pode adquirir desde 25 a 300 Mb/s, é certo que o cliente irá preferir ter uma franquia maior com velocidade mais alta.
Tecnoblog: A utilização dos serviços Outra Chance e On Demand (que agora viraram Vivo Play), oferecidos pela TV por assinatura, também terão tráfego descontado? Digo o mesmo para o Wi-Fi Calling, onde o usuário deixa de usar a rede tradicional da operadora e passa a usar a internet de casa.
Gebara: Ainda não sabemos direito sobre isso. A ideia é que não desconte, mas precisamos entender se isso será legalmente viável.
Tecnoblog: Oi e NET possuem franquia com redução de velocidade, mas fazem vista grossa quanto a isso. Muitas vezes a Vivo fala em corte de velocidade, e não redução. Isso realmente vai acontecer? É um caminho sem volta?
Gebara: Sim, é um caminho sem volta, por ser uma tendência adotada mundialmente.
Tecnoblog: Essa medida não fere o Marco Civil da Internet, segundo o qual uma operadora só pode barrar o acesso de um cliente se ele deixar de pagar a conta?
Antes de obter resposta para a pergunta, a conversa foi interrompida pelo assessor de imprensa por “fugir do escopo inicial da entrevista”, com a promessa de futura oportunidade para discussão exclusiva de assuntos sobre franquia na banda larga fixa.
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Atualização às 16h12: foi incluída a resposta da operadora sobre as novas velocidades de upload.