Temos espaço para mais um navegador de internet? Não? E se o browser prometer mais privacidade e velocidade no carregamento das páginas? Pois essa é a proposta do Brave, navegador que acaba de ser anunciado por Brendan Eich, ex-CEO da Mozilla. Mas não é tudo: a novidade também tem lá seu lado polêmico.
A parte polêmica não é nada perto do que Brendan Eich já passou. O executivo carrega em seu currículo o título de “pai do JavaScript”. Esse trabalho, junto com outros atributos, permitiu que ele se tornasse CEO da Mozilla há cerca de dois anos.
Mas Eich não ficou nem duas semanas no cargo. O executivo foi alvo de diversas manifestações contrárias à sua nomeação por seu aparente perfil homofóbico: em 2008, Eich fez uma doação de US$ 1.000 à “Prop 8”, projeto da Califórnia contrário ao casamento entre pessoas do mesmo sexo.
Para muita gente, uma entidade com propósitos tão abertos quanto a Mozilla não poderia ser liderada por alguém com esse tipo de postura. Eich se defendeu dizendo que suas convicções pessoais passavam longe dos interesses da Mozilla, mas não teve jeito: ele teve que abandonar o cargo.
Como a gente vê agora, sair da Mozilla não fez com que Eich deixasse de trabalhar com navegadores. O Brave ainda está em desenvolvimento, mas já tem versões de teste disponíveis para Android, iOS, Linux, OS X e Windows.
Nas palavras da empresa, as versões para desktop conseguem ser quase duas vezes mais rápidas que os demais navegadores do mercado no carregamento de páginas. Nas versões móveis, essa estimativa sobe para até quatro vezes. Aqui é que aparece a parte polêmica: tamanho desempenho se deve principalmente ao recurso de bloqueio de anúncios do navegador, que é ativado por padrão.
Você sabe: bloqueadores de anúncios diminuem o consumo de dados, deixam a página mais leve e aumentam a privacidade. Por outro lado, sites que dependem de publicidade podem ser seriamente prejudicados por essas ferramentas.
É por isso que Eich fez questão de explicar que, no Brave, o bloqueador funciona de um modo diferente: em vez de todo e qualquer tipo de publicidade, basicamente, apenas anúncios tidos como invasivos são barrados.
Esse controle é feito de maneira peculiar. Inicialmente, todos os anúncios serão bloqueados, mas a ideia é recolher dados anônimos de navegação e disponibilizar essas informações para redes de publicidade que respeitam a privacidade do usuário (este não será identificado, portanto). Dessa forma, somente anúncios não intrusivos serão mostrados. Isso deve evitar, por exemplo, a exibição de banners que “perseguem” o usuário em todos os sites que ele visita.
Se a ideia funciona? Teremos que esperar para saber, mesmo porque ainda há alguns pontos obscuros, por exemplo: se os anúncios ficarem sob controle da Brave (a companhia tem o mesmo nome do navegador), os editores podem acabar não sendo remunerados pelos espaços para publicidade disponíveis em seus sites. Para evitar esse problema, está nos planos da empresa oferecer 55% da receita com os anúncios aos editores (e aumentar esse limite para 70% com o passar do tempo), mas não está claro como essa parceria, digamos assim, será colocada em prática.
Vale destacar que o Brave não é um software feito do zero: o navegador é baseado no Chromium que, por sua vez, utiliza o motor de renderização Blink. Pela longa relação que Brendan Eich manteve com a Mozilla, o Gecko, motor do Firefox, poderia ter sido a escolha natural para o novo projeto, mas, pelo jeito, o Blink oferece mais vantagens.
Embora já esteja funcionando, o Brave ainda está “verde”: vários recursos estão ausentes, como gerenciador de favoritos, pasta de download e histórico. Além disso, instalá-lo não é tarefa fácil: por enquanto, o navegador pode ser baixado apenas dos repositórios no GitHub.
Versões beta, com instalador, devem ser liberadas em breve. Se você quiser receber uma notificação sobre a disponibilização, pode cadastrar seu email no site da Brave.
Com informações: VentureBeat, TechCrunch