Não dá para dizer que um dia todo lar terá uma impressora 3D, mas tudo indica que, pelo menos em clínicas e hospitais, esse tipo de equipamento será essencial. Isso porque a impressão 3D está permitindo à medicina oferecer tratamentos cada vez mais individualizados. Os resultados já obtidos são tão positivos que não é exagero afirmar que os impressos tridimensionais podem salvar vidas. Como? É o que você descobrirá nas próximas linhas.
Próteses totalmente personalizadas
Por conta de acidentes, tumores e outras condições, há pessoas que precisam passar por cirurgias de remoção de estruturas ósseas. É relativamente comum que isso aconteça com a cabeça do fêmur ou com ossos do joelho, só para exemplificar.
Próteses para substituir essas estruturas existem há tempos. O problema é que, mesmo havendo opções com várias dimensões, nem sempre é possível encontrar a prótese que serve perfeitamente à situação de uma pessoa. Nessas circunstâncias, podem surgir dores ou limitações de movimentos, por exemplo.
Com a impressão 3D, instituições especializadas estão podendo oferecer próteses com as medidas exatas para cada pessoa. A partir de exames de imagens como ressonância magnética e tomografia computadorizada, vem sendo possível passar as dimensões precisas da estrutura óssea removida para softwares de modelagem 3D. Quando essa etapa é concluída, basta enviar o modelo para impressão.
Mas, em relação a próteses, a impressão 3D tem mostrado a sua força nos casos incomuns de remoção óssea. Imagine, por exemplo, substituir todo o topo de um crânio ou parte das costelas. Esses procedimentos já foram realizados: em 2014, uma mulher diagnosticada com uma condição que engrossa os ossos recebeu parte de um crânio feito em impressora 3D, como mostra a foto abaixo:
Já no ano passado, um senhor de 54 anos ganhou uma prótese para substituir costelas que foram removidas por conta de um tumor:
Obviamente, não é qualquer tipo de impressora 3D que pode ser usado para esse fim. É necessário que o equipamento tenha bastante precisão na moldagem e, claro, possa trabalhar com os materiais normalmente usados em próteses, principalmente titânio. O laboratório australiano CSIRO é um dos que são especializados nesse tipo de impressora.
Se chegarmos a um futuro em que esses equipamentos serão comuns, será possível não só oferecer próteses mais adequadas para cada caso, como também mais baratas. Tratamentos odontológicos também poderão ser facilitados graças a aparelhos e próteses dentárias totalmente construídas no consultório.
Exames e diagnósticos
Exames de imagem são indispensáveis para que os médicos preparem cirurgias. Porém, há casos em que nem mesmo os exames mais avançados oferecem a quantidade de informações necessária para o procedimento. Nessas circunstâncias, o cirurgião inicia o procedimento, faz uma avaliação a “olho nu” do problema e então define os próximos passos.
O problema dessa abordagem é que o tempo de cirurgia fica maior ou, por falta de tempo para uma análise mais detalhada, uma conduta menos adequada pode ser adotada. Consequentemente, há mais riscos de complicações.
Como a impressão 3D pode ajudar nesses casos? Com a criação de réplicas de órgãos ou estruturas em tamanho real que permitem ao médico estudar toda as características anatômicas. Olhando o modelo de vários ângulos, é possível identificar exatamente como é a lesão ou o defeito congênito que deve ser tratado.
Já relatamos alguns casos desse tipo aqui no Tecnoblog. Um deles é o de uma menina que nasceu com uma malformação congênita que fazia veias pulmonares conduzirem sangue para a parte incorreta do coração. Por conta disso, a garota tinha dificuldade para respirar, fadiga intensa e imunidade baixa. Ela precisava ser operada com absoluta urgência.
Em cirurgias cardíacas, o menor dos erros pode ser fatal, ainda mais em um caso tão crítico. Por isso, os médicos tinham que fazer o possível para reduzir os riscos. Foi aí que uma impressora 3D entrou em cena: a partir de exames de imagens, a equipe médica imprimiu uma réplica em tamanho real do coração usando um material flexível e, assim, pôde estudar toda a anatomia do órgão com bastante precisão. A cirurgia terminou bem.
Remédios na dose certa
Você vai na farmácia, apresenta a receita para o farmacêutico e então ele imprime o remédio solicitado. Pode parecer utopia, mas, ainda que discretamente, medicamentos impressos já são realidade.
O exemplo mais notório vem dos Estados Unidos: a FDA (que você pode entender como um órgão semelhante à Anvisa) aprovou em 2015 a comercialização da droga para controle de convulsão Spritam em formato impresso.
As pílulas convencionais desse e de outros medicamentos têm um problema: para muita gente, elas são grandes demais, dificultando a ingestão. Por causa da forma como as impressoras trabalham, criando camada por camada, é possível imprimir comprimidos menores preservando a quantidade certa do medicamento.
Essa é apenas uma vantagem. Outra, para o futuro, será a possibilidade de imprimir medicamentos na dosagem correta para cada indivíduo, evitando desperdício ou ingestão acima do necessário. Além disso, a impressão 3D possibilita a criação de remédios que se dissolvem mais rapidamente e até mesmo a combinação de drogas na mesma pílula, favorecendo tratamentos individualizados.
Previsão: órgãos e tecidos biológicos
Instituições de pesquisa de várias partes do mundo tentam descobrir formas de criar órgãos artificiais que possam ao menos reduzir as filas de transplantes. De mãos dadas com a biotecnologia, a impressão 3D também pode dar a sua contribuição para a área criando tecidos, por exemplo.
Trata-se de um exercício de futurologia, é verdade, mas já temos pesquisas seguindo por esse caminho: em fevereiro, um grupo de pesquisadores dos Estados Unidos apresentou uma tecnologia de impressão 3D biológica capaz de produzir músculos, cartilagens e até ossos.
Não estamos falando de tecidos iguais aos “originais”, mas esses impressos recebem características similares, como textura, resistência e flexibilidade. Assim, eles poderão ser empregados em cirurgias de reconstrução. Como podem ser misturados com material biológico do próprio paciente, esses tecidos têm chances menores de apresentar rejeição.
A partir daí, as possibilidades são numerosas. Esses tecidos poderão ser usados, por exemplo, no lugar de uma orelha extirpada, para criar braços robóticos quase reais (com peças de titânio, mas pele impressa) e, sim, até para substituir órgãos. É o caso destes implantes de ovários feitos em impressora 3D, uma esperança para mulheres que sofrem de infertilidade.
Coisa do futuro, mas um futuro próximo
Os feitos já proporcionados pela impressão 3D são tão impressionantes que parece que as respostas para todos os desafios da medicina estão aí, não? É claro que não é assim. No entanto, não dá para negar que as impressoras 3D podem mesmo abrir portas para tratamentos mais eficazes e menos custosos.
Diante de uma condição ou enfermidade, cada pessoa apresenta necessidades únicas, logo, é essencial que os tratamentos sejam tão individualizados quanto possível. Como ficou claro ao longo do texto, essa é a principal razão para a adoção da impressão 3D para fins médicos.
Mas não é a única: no longo prazo, as impressoras 3D podem reduzir custos, aumentar o envolvimento das equipes médicas (que ficam menos dependentes de laboratórios) e até permitir ensaios clínicos (em tecidos biológicos impressos).
Se é assim, por que as impressoras 3D ainda se limitam a poucos hospitais e clínicas? Há várias razões. Para começar, esses equipamentos ainda são caros. Além disso, dependendo da finalidade, é preciso aperfeiçoar a tecnologia de impressão para permitir seu uso em larga escala. Alguma regulamentação também pode ser necessária: a impressão de remédios, por exemplo, certamente precisará de critérios rigorosos de segurança.
Assim, de um ponto de vista amplo, a impressão 3D na medicina ainda é coisa para o futuro. A boa notícia é que, como os casos já tratados mostram, esse é um futuro que não está muito longe da gente.
O futuro em 3D
A impressão 3D é uma febre recente para diversas áreas, não só a medicina. A ideia, no entanto, surgiu nos anos 1980. Alguns acreditam que a popularização dessa tecnologia pode revolucionar completamente a forma como criamos e consumimos produtos. Será? Debatemos o assunto no Tecnocast 025. Confira ?