Um minúsculo chip é implantado no seu corpo, realiza uma tarefa e depois se dissolve sem deixar vestígios. Coisa de ficção, certo? Sim, mas não por muito tempo: pesquisadores da Universidade de Washington e da Universidade de Illinois desenvolveram um chip que é absorvido pelo organismo depois de alguns dias.
A invenção pode ser de grande utilidade para a medicina. Uma pessoa que sofreu traumatismo craniano, por exemplo, pode precisar ter temperatura e pressão intracranianas medidas com precisão. Só que o cérebro é um órgão bastante delicado. Um procedimento cirúrgico para ligar sensores à região pode acabar trazendo complicações para o paciente.
Com o novo chip, os riscos são menores, a princípio. A invenção tem o tamanho de um grão de arroz e pode ser levada ao cérebro por um procedimento cirúrgico mais simples, portanto, menos arriscado. As informações colhidas (pressão e temperatura) são transmitidas via tecnologia sem fio.
Depois de alguns dias — em média, cinco — o chip é dissolvido e absorvido pelo organismo. Isso é possível porque a base do dispositivo é o PLGA, um tipo de polímero bioabsorvível que já vem sendo usado há algum tempo, principalmente em medicamentos.
Esse é o ponto mais importante da ideia: como o corpo se encarrega de dissolver o chip, os médicos não precisam realizar nenhum procedimento para retirada do material, diminuindo o risco de infecções e outras complicações.
Para o neurocirurgião Rory K. J. Murphy, um dos pesquisadores responsáveis pelo projeto, esse tipo de implante também diminui o risco de desenvolvimento de inflamações crônicas, assim de como de lesões ao órgão, afinal, depois de um curto intervalo de tempo, o objeto estranho já não está mais ali.
Como o chip não deve causar nem mesmo uma reação do sistema imunológico do indivíduo, os cientistas acreditam que a invenção pode ter seu tamanho reduzido ainda mais para ser implantada em outros órgãos. Nesse sentido, o chip poderia chegar ao coração via artéria para ajudar a monitorar um paciente que sofre de algum tipo de arritmia, por exemplo.
É claro que esse cenário levará bastante tempo para se transformar em realidade. Há inúmeras fases de testes que precisam ser executadas, principalmente em humanos: até o momento, os pesquisadores testaram o chip apenas em soluções salinas e em ratos.
De qualquer maneira, as expectativas são grandes. Só nos Estados Unidos, cerca de 50 mil pessoas morrem por ano devido a lesões cerebrais. Os equipamentos utilizados para medir pressão craniana e outros parâmetros relevantes ao tratamento têm tecnologias que remetem aos anos 1980. Se tecnologias mais recentes puderem fornecer dados mais precisos e, ao mesmo tempo, diminuir o risco de complicações, será possível salvar mais vidas, acreditam os médicos.
Com informações: EureKAlert Science News, CNN