Pelo jeito, os debates acerca dos bloqueadores de anúncios estão longe do fim. O assunto tem gerado cada vez mais preocupação entre empresas de publicidade, veículos online e afins. Você percebe a gravidade do tema quando até gigantes da internet se manifestam: em um relatório para investidores liberado nesta semana, o Facebook reconheceu abertamente, pela primeira vez, que os AdBlocks da vida estão afetando a sua receita.
No documento, a companhia de Mark Zuckerberg explica que os bloqueadores estão prejudicando a exibição de anúncios na versão web do Facebook (para desktops), mas não ao ponto de causar grandes prejuízos. Por ora, o problema é discreto. O Facebook está preocupado mesmo é com o futuro.
A princípio, parece não haver motivo para alarde. O mesmo relatório mostra que 95% da receita do último trimestre da empresa vieram da publicidade online. Não é pouca coisa: o volume movimentado foi de US$ 4,5 bilhões, sendo que, desse total, 78% são relacionados a dispositivos móveis. Com base nesses números, a disseminação de bloqueadores em PCs realmente não chega a ser catastrófica. O problema é que essas ferramentas também estão ganhando força nos smartphones e tablets.
Podemos encarar o iOS 9 como um marco desse movimento. Com essa versão, a Apple passou a dar abertura para a instalação de bloqueadores de anúncios no Safari móvel (assim como já era possível na versão para OS X). O efeito esperado é o surgimento de cada vez mais opções de bloqueadores para a plataforma. No Android, essa movimentação toda não é diferente, logo…
Para o Facebook, o efeito dos bloqueadores não é recente. Mas, nos relatórios anteriores, a empresa não deu tanta atenção ao assunto. No máximo, a companhia citava “tecnologias novas” que afetavam a receita, mas nunca havia se dirigido diretamente aos bloqueadores como uma causa de perda de dinheiro.
O último relatório acaba sendo, portanto, um alerta para os investidores (e para o mercado de publicidade como um todo). O Facebook foi taxativo: “se essas tecnologias continuarem a se proliferar, principalmente no que diz respeito às plataformas móveis, nossos resultados financeiros futuros podem ser prejudicados”.
Apesar do sinal de alerta, o Facebook não anunciou nenhuma medida para combater o problema. Das duas, uma: a empresa está esperando alguma reação de entidades que representam o mercado publicitário ou simplesmente está arquitetando uma reação secretamente.
A primeira hipótese parece ser improvável, mas, de fato, a indústria da publicidade tem se articulado nos bastidores para tratar do assunto. É o caso da Interactive Advertising Bureau (IAB), uma das mais importantes associações para assuntos ligados à publicidade online: a entidade vem realizando reuniões há meses para encontrar uma solução, embora nada muito promissor tenha aparecido.
Já a segunda hipótese é mais provável, principalmente se levarmos em conta que, apesar de tudo, o Facebook continua em situação confortável. A maioria dos usuários que acessam a rede social em dispositivos móveis o faz via app. Até é possível bloquear anúncios dentro dos aplicativos, mas, por outro lado, é relativamente fácil mitigar a ação de bloqueadores sobre eles.
Outra vantagem do Facebook é que a companhia pode exibir publicidade em formato de posts. Em tese, é mais difícil bloqueá-los. Isso vale tanto para as versões web da rede social quanto para os apps.
Essa zona de conforto, digamos assim, dá margem para que o Facebook estude bem a situação antes de colocar um plano B em prática. Mas algumas medidas já podem ser tomadas, por exemplo, otimizar os apps móveis: há muitos usuários reclamando (com razão) que os aplicativos da rede social têm consumido memória e bateria demais. Isso pode fazer com que muita gente prefira acessar o serviço a partir da versão web móvel. O problema disso é que, como você sabe, no navegador é bem mais fácil bloquear anúncios.
Para o Facebook, são medidas indiretas como essa que ajudarão a conter os efeitos dos bloqueadores. Sentar e esperar é arriscado. Pelo menos no curto prazo, não há nada que indique que a adoção dessas ferramentas será uma moda passageira.
A Internet sem Ads
As razões para o uso do AdBlock e semelhantes frequentemente são legítimas: há anúncios que são invasivos, muitas páginas exageram na quantidade de publicidade, existem temores relacionados à privacidade, o bloqueio alivia o consumo de dados de planos móveis e assim por diante.
Mas há o outro lado: muitos sites e serviços, principalmente aqueles que fornecem conteúdo de graça, dependem dos anúncios para manter suas operações. E agora? Há como equilibrar esse jogo? Discutimos o assunto no Tecnocast 030 para tentarmos descobrir. Clique no play para conferir ?
Com informações: Business Insider