Se até as cirurgias mais simples oferecem riscos ao paciente, imagine aquelas que são realizadas no coração. Felizmente, o avanço da medicina vem trazendo cada vez mais procedimentos que, por serem minimamente invasivos, reduzem o risco de complicações. Uma dessas técnicas foi apresentada nesta semana pela Universidade de Harvard: um cateter que corrige danos no órgão sem necessidade de cirurgias complexas.
A técnica não é totalmente nova. Já há algum tempo que hospitais e clínicas especializadas dispõem do chamado cateterismo cardíaco, um procedimento em que um tubo fino — o cateter em si — é inserido em uma veia do braço ou da perna (a artéria femoral é bastante usada para esse fim) até chegar ao coração.
Uma vez no órgão, o cateter pode ser usado para diagnosticar ou avaliar algum problema cardíaco. Nessas circunstâncias, os médicos podem, por exemplo, injetar na pessoa uma substância com contraste para visualizar em exames de imagem o fluxo de sangue no coração ou em parte do órgão.
O cateter também é a base da angioplastia coronária. Esse procedimento é realizado para desobstruir artérias coronárias e, quando for o caso, implantar uma pequena prótese chamada stent naquele ponto para prevenir o ressurgimento da obstrução.
Na pesquisa desenvolvida pelos pesquisadores de Harvard — um trabalho de vários anos que contou com o apoio do Hospital Infantil de Boston e outras instituições — o cateter ganha mais uma função: reparar lesões ou buracos no tecido cardíaco, procedimento que, pelas vias convencionais, exige intervenção cirúrgica a partir do tórax.
funciona da seguinte forma: assim como na angioplastia, o cateter segue por uma veia até o coração; no órgão, o tubo é levado até o ponto que precisa ser tratado. Na etapa seguinte, a ponta do cateter é puxada para revelar um pequeno dispositivo que se infla como um balão e libera um material adesivo.
Na sequência, o cateter emite uma luz ultravioleta que estimula o material adesivo fazendo-o, com auxílio de pressão, aderir ao tecido cardíaco. Dessa forma, a abertura existente ali é bloqueada. Por fim, o cateter é cuidadosamente retirado. Isso é feito de modo que o adesivo preencha o orifício deixado pelo tubo.
“Além de evitar uma cirurgia que expõe o coração, o método evita sutura no tecido cardíaco”
Pedro del Nido, chefe de cirurgia cardíaca do Hospital Infantil de Boston, destaca as vantagens da técnica: “além de evitar uma cirurgia que expõe o coração, o método evita sutura no tecido cardíaco, pois nós estamos apenas colando algo nele”, explica.
Essa cola — o material adesivo — não faz mal para a saúde. Com o passar do tempo, o tecido cardíaco cresce sobre a área “colada” e o material é absorvido pelo organismo sem prejudicar o funcionamento do órgão.
Outra vantagem é a menor complexidade. Conduzir o cateter exige grande habilidade dos médicos, mas o procedimento é bem mais simples do que cirurgias cardíacas que exigem que o coração pare de bater — nessa situação, o paciente é mantido vivo com uma máquina que faz as vezes do coração e dos pulmões. “A forma como a cola funciona em contato com o sangue é revolucionária. Não temos de parar o coração”, comemora Nido.
Como resultado, o paciente tende a ter uma recuperação bem mais rápida e menos sofrida, sem contar que o tempo de internação pode ser reduzido drasticamente.
A técnica ainda depende de mais estudos para ser adotada amplamente. Por enquanto, a ideia só foi testada — com sucesso — em animais. Na atual fase, os pesquisadores trabalham, entre outros objetivos, para descobrir quais as quantidades de material adesivo são mais adequadas para defeitos de diferentes extensões. Os testes com pessoas devem começar ainda neste ano.
Em uma etapa mais à frente, os médicos esperam que a técnica também possa ser usada para viabilizar tratamentos minimamente invasivos em outras partes do corpo.
Com informações: Engadget