O conceito de internet das coisas pode ter sido levado a outro nível com esta campanha no Kickstarter. Batizado de Mycroft, o dispositivo parece um simples alarme para acompanhar seu criado mudo, mas na verdade faz muito mais do que isso.
Com a proposta de integrar inteligência artificial, comandos de voz e dispositivos já existentes de internet das coisas da sua casa, o Mycroft atende ao seu chamado e realiza as mais variadas ações dentro da residência. Assistir a um vídeo no YouTube, ouvir uma música no Spotify, controlar as luzes Philips Hue, trancar a casa, fazer café, postar no Facebook… É tanto recurso que parece até um assistente virtual de cinema.
Tudo isso é possível porque o Mycroft é um dispositivo de código aberto baseado no Raspberry Pi 2 e Arduino. Dessa forma, fica a cargo dos desenvolvedores implementarem funcionalidades para possibilitar que o Mycroft gerencie quase todos os outros dispositivos da sua casa. Assista ao vídeo abaixo para entender o funcionamento:
Ao ouvir seu nome, o Mycroft passa a entender um comando, que é enviado para a nuvem e duas ou mais APIs que transcrevem a sua fala com a arquitetura speech to text (STT). O dispositivo estrutura os dados recebidos para fazer a ação apropriada. Se você falar “Mycroft, abra Uptown Funk do YouTube no meu Chromecast”, em segundos o vídeo vai ser reproduzido. Até agora, no entanto, o dispositivo só entende inglês, mas a equipe pretende expandir o suporte para alemão, francês e espanhol.
Os desenvolvedores contam que é preferível que a conversão do áudio seja feita para o texto com a arquitetura STT porque ela é cerca de 95% mais precisa nos comandos comparada aos pacotes locais. Segundo eles, também é melhor porque gasta menos poder de processamento local e sempre é bom economizar, uma vez que são quatro núcleos Cortex-A7 a 900 MHz e 1 GB de RAM por dentro do Mycroft.
Além de reproduzir qualquer mídia, o dispositivo também pode ser integrado com lâmpadas Philips Hue, termostatos da Nest, fechaduras da SmartThings e cafeteiras, câmeras e interruptores da WeMo. É como se o Mycroft funcionasse como um dispositivo que integra todos os gadgets de internet das coisas da sua casa. Ele faz mais do que isso, no entanto.
Os comandos pré-carregados no Mycroft também permitem usá-lo como um assistente virtual como a Siri, Google Now ou Cortana. É possível integrá-lo com o seu calendário, contas de redes sociais, criar lembretes, fazer gravações de áudio, contas matemáticas e obter informações como notícias, tempo e cotação de ações na bolsa de valores. Outro recurso interessante é que o Mycroft sincroniza com outros modelos igual a ele, então é possível fazer um anúncio que é replicado nas outras unidades do dispositivo.
Ah, e o nome “Mycroft” não é em homenagem ao irmão do Sherlock Holmes criado por Arthur Conan Doyle ― ou pelo menos não diretamente. Na verdade, é por conta do Mike, um supercomputador no livro The Moon is a Harsh Mistress (sem tradução em português) do Robert A. Heilen; “Myke” é a abreviação de Mycroft, nome, agora sim, em homenagem ao irmão de Sherlock Holmes. Se você não for muito fã de nenhuma dessas sagas, é possível mudar o nome do Mycroft para qualquer palavra ou frase de sua escolha. Imagina que legal chamá-lo de Jarvis?
A campanha ainda promove o Mycroft como um dispositivo com preço acessível. Por US$ 129, eles dizem que é possível acomodar o Mycroft em cada cômodo da sua casa ― o pacote com cinco dispositivos sai por US$ 645. Se você se interessou na campanha e quer integrar todas as “coisas de internet” da sua casa, o produto na modalidade early adopter (US$ 99) mais frete para o Brasil sai por US$ 119 e a previsão é que o Mycroft seja entregue em julho de 2016.
Apesar do objetivo da campanha ser arrecadar US$ 99 mil, a descrição do projeto reconhece que tal quantia não é o suficiente para bancar a manufatura dos moldes, compra dos componentes e instalação da arquitetura na nuvem. Até agora, 486 pessoas investiram uma quantia total de US$ 61.924 na campanha.
Em vez de fazer tudo isso com os milhares de dólares arrecadados, a equipe do Mycroft quer provar que a comunidade quer uma solução de inteligência artifical com código aberto. Segundo eles, caso isso aconteça, o próprio CEO vai continuar investindo no projeto, uma vez que ele é dono de uma provedora de internet.
Por que é legal? Principalmente porque é open source, então as funcionalidades não dependem diretamente da equipe do Mycroft e fica a cargo da imaginação de desenvolvedores inventar novos recursos para o dispositivo. Também é interessante a forma que o Mycroft integra seus dispositivos de mídia e gadgets inteligentes. E ele ainda é um assistente virtual.
Por que é inovador? Em vez de criar mais um jeito de colocar a internet em algum dispositivo da sua casa, o Mycroft integra tudo isso. É interessante porque todos os comandos ficam reunidos em um aparelho só e ainda há o bônus de ter comandos de voz e controlar outros dispositivos de mídia.
Por que é vanguarda? Basicamente, porque o Mycroft usa a inteligência artificial e várias APIs de código aberto para juntar uma assistente virtual e o controle de dispositivos “internet das coisas” em um lugar só.
Vale o investimento? No Brasil, talvez ele não seja tão atraente quanto poderia. Por US$ 119 com o frete, custaria R$ 426 (sem IOF) para ter, basicamente, um alarme inteligente. Como os outros dispositivos de internet das coisas ainda são pouco acessíveis por aqui, o maior benefício do Mycroft, de integrar tudo isso, não é aplicado.
A internet das coisas
Essa tática de usar o que as conexões móveis têm de melhor para melhorar as coisas que você usa todos os dias não é nova e tem nome: a internet das coisas. Desde alarmes inteligentes que se conectam com qualquer coisa na sua casa até geladeiras e termostatos inteligentes, a implementação do conceito não é tão recente e produz resultados interessantes.
Conversamos sobre o assunto no Tecnocast 009 e explicamos como essas melhoras tornam o nosso cotidiano melhor e automatizam as nossas tarefas. O botão de play fica logo abaixo!