Uma pesquisa do Ibope encomendada pela Qualcomm revelou que os smartphones estão cada vez mais populares no país: a taxa de penetração chegou a 40% em 2016. Entretanto, os brasileiros estão ficando bem mais tempo com o mesmo aparelho: atualmente, 91% permanecem com o smartphone por mais de um ano, índice que era de apenas 50% em 2014. Por quê?
Desde que o mercado de smartphones amadureceu, a vida útil dos aparelhos ficou bem maior. Sem querer ficar batendo na mesma tecla de que as fabricantes “não estão inovando”, a necessidade de trocar de smartphone tem tudo a ver com a evolução do hardware — que parece estar caminhando a passos bem mais lentos do que há três ou quatro anos.
Até 2011 ou 2012, as empresas ainda estavam na lógica dos celulares, lançando aparelhos com diferentes formatos, como telas gigantescas (o hoje comum 5,3 polegadas era ridiculamente grande e altamente nichado), teclado QWERTY deslizante (por que desistiram?), controle para games (o Sony Ericsson Xperia Play era sonho de consumo de muita gente) ou dock que se transforma em notebook.
Então vieram os avanços internos: RAM, CPU, armazenamento ou resolução de tela tinham números que dobravam a cada geração e estavam no centro das atenções de todas as fabricantes, numa época em que a Samsung ainda se preocupava em gritar aos quatro cantos o número de núcleos e a frequência do chip do novo Galaxy — enquanto isso, no S6 e S7, os detalhes técnicos do processador nem sequer foram citados nas apresentações.
Mais recentemente, as mudanças nos smartphones têm se focado em comodidades: uma bateria maior aqui, um leitor de impressões digitais ali, uma câmera que lida melhor no escuro, um design mais sofisticado e uma tela maior para consumir conteúdo. No entanto, esses são apenas refinamentos — não existe uma quebra de paradigma, uma mudança que torna possível fazer o que não era possível antes. As melhorias no hardware estabilizaram.
É legal ter um Android com 6 GB de RAM, mas você dificilmente vai notar alguma diferença de desempenho em comparação com outro que tenha “só” 3 ou 4 GB. Telas de 2560×1440 pixels (ou pior, 4K) ficam bonitas na ficha de especificações, mas não trazem grandes benefícios em relação ao 1080p nos smartphones — na verdade, podem até gerar malefícios se a GPU e a bateria não forem bem dimensionadas.
Além disso, os processadores não estão evoluindo tanto a cada geração quando se considera o mesmo segmento — bem diferente da época em que a gente tinha smartphone de entrada com processador de 500 MHz e 256 MB de RAM que mal dava para rodar o próprio Android com fluidez.
Consideremos o Moto G4, lançado em maio de 2016. Ele usa o Snapdragon 617, que possui uma CPU baseada em Cortex-A53. São os mesmos núcleos do Snapdragon 615, de 2014. E os mesmos do Snapdragon 410, revelado meses antes. Que por sua vez é uma pequena atualização de 64 bits do Snapdragon 400, utilizado no Moto G de primeira geração, de 2013 — esse sim, uma grande revolução entre os aparelhos básicos.
Com exceção dos aparelhos realmente baratos, que normalmente já trazem hardware defasado, parece seguro afirmar que seu smartphone atual vai durar uns três anos, se você não quebrá-lo antes ou for roubado. Dificilmente alguém permaneceria com um Galaxy S II, iPhone 3GS ou Milestone por tanto tempo. Mas com um Galaxy A7, iPhone 6 ou Moto G4, isso parece bem possível. Nem precisa ser topo de linha.
Faz quanto tempo que você usa o mesmo smartphone? Quanto tempo será que ele ainda vai durar?