Medo de acidente aéreo? Não. O que todo viajante teme é que a sua bagagem suma. Ou pelo menos é o que todo mundo deveria temer: a chance de uma mala se perder é trocentas vezes maior que a de um avião cair. Não é à toa que algumas companhias aéreas estão investindo pesado em tecnologias para combater o problema. É o caso da Delta, que usa oficialmente RFID nas bagagens desde abril.
Esteira do aeroporto: momentos de tensão
O caminho do avião até a área de retirada de bagagens pode ser tranquilo, mas quando você chega lá, sempre bate um friozinho na barriga. As malas demoram uma eternidade para vir, embora o seu relógio indique que se passaram apenas cinco minutos.
Quando você se dá conta, os cincos minutos viraram 15, 20, 40. O meu recorde de espera, no aeroporto de Guarulhos, foi de uma hora e meia, mas pareceu que fiquei a tarde inteira ali: as esteiras têm o impressionante poder de fazer o tempo passar devagar.
Quando as malas começam a vir, mais apreensão: parece que as bagagens de todo mundo surgem desfilando na esteira, menos a sua. Haja coração. Haja unha. Para piorar, ali só tem Zubat. Eis que de repente a sua mala vem. Fazendo birra, mas vem. Baita alívio.
Só que muitas vezes a bagagem não aparece. É um problema tão comum que, se você nunca passou por isso, provavelmente conhece alguém que já enfrentou esse drama. Em uma situação como essa, você deve procurar imediatamente a companhia aérea. As leis podem variar de país para país, mas, via de regra, a empresa terá um prazo para localizar a bagagem e, caso não consiga encontrá-la, vai ter que te indenizar. É por isso que o setor usa cada vez mais tecnologia para atacar o problema.
Por que a bagagem some?
Tomar chá de cadeira em aeroporto é tão chato que não vou estranhar se vários dos palavrões que usamos hoje tiverem sido inventados nesses momentos. É por isso que, em uma conexão, muita gente se programa para ter um intervalo de tempo pequeno entre a troca de aeronaves. Pois saiba que essa situação é um grande fator de risco para a sua bagagem.
De acordo com a SITA, empresa que desenvolve sistemas para companhias aéreas, boa parte das malas que somem se perde na transferência de bagagem de um avião para outro, especialmente quando companhias aéreas diferentes estão envolvidas. Às vezes a transferência não é feita em tempo hábil, aí o passageiro embarca, mas a sua bagagem fica. E ele só vai descobrir quando descer da aeronave.
Mas também pode acontecer de a etiqueta de identificação se soltar ou ser danificada, de a bagagem ir para a aeronave errada (não é comum, mas acontece) e de haver extravio na área interna (também é incomum, mas ocorre).
Outra causa frequente: extravio na esteira. Alguém mal-intencionado pode pegar a sua bagagem e sair dali discretamente, embora, na maioria dos casos, aconteça um engano: a pessoa confunde a bagagem dela com a de outro passageiro. Dê uma boa olhada ao redor na próxima vez que você viajar. O que você verá de bagagem parecida — e, às vezes, igual — não é brincadeira.
Bota RFID aí
Com óbvia exceção para aquelas que são levadas por engano (ou por malandragem mesmo), as bagagens desgarradas são encaminhadas para depósitos. A maioria das companhias aéreas utiliza um sistema internacional chamado World Tracer para localizar os volumes perdidos.
É como se fosse um “achados e perdidos” virtual. Bagagens que não são recolhidas pelos donos são cadastradas lá. Número da etiqueta, cores e outras características são registradas. Assim, com uma busca, fica fácil saber onde uma bagagem perdida está.
Mesmo assim, o processo de busca pode demorar ou falhar, principalmente quando há perda de etiqueta. É por isso que o uso do RFID é interessante: além de ajudar a diminuir a perda de bagagem, a tecnologia pode agilizar a localização dos volumes quando não for possível evitar o problema.
Será? O uso de RFID no controle de bagagens não é uma ideia recente. Companhias como Lufthansa, Qantas e Air France têm projetos do tipo há algum tempo. Mas a Delta chama atenção por ter decidido usar a tecnologia em larga escala: o plano da companhia é fazer o novo sistema funcionar em 344 aeroportos em todo o mundo.
Não foi uma decisão tomada de uma hora para a outra, é claro. A Delta só decidiu adotar massivamente a tecnologia porque os testes iniciais, que começaram em 2003, mostraram que o RFID teve taxa de sucesso de 99,9% no rastreamento de bagagens.
A tag RFID é fixada à bagagem junto com a etiqueta convencional, aquela que tem código de barras. Como as tags são lidas a partir de ondas de rádio, não é necessário aproximar leitores da etiqueta, basta que esses equipamentos fiquem posicionados em pontos estratégicos pelos quais as bagagens passam.
Segundo a Delta, as esteiras que levam as bagagens até o avião têm leitores que reportam instantaneamente um erro. Quando a bagagem é encaminhada para a aeronave certa, uma luz verde acende ao lado da esteira. Se o leitor identificar uma mala que não deveria estar ali, uma luz vermelha é acionada. Quando isso ocorre, um funcionário imediatamente separa a bagagem para tomar as providências cabíveis.
Há mais uma vantagem: o RFID permite que a bagagem seja rastreada em vários pontos do percurso que ela deve percorrer, logo, o passageiro poderá saber onde ela está quase em tempo real a partir de notificações do aplicativo Fly Delta. Esse recurso ainda não está amplamente disponível, mas a Delta planeja disponibilizá-lo definitivamente até o final do ano.
Enquanto isso
Se o RFID oferece tantas vantagens, por que outras companhias não adotam a tecnologia de uma vez? Custo. Bom, pode ser que, no fundo, elas te odeiem, mas não é mesmo barato botar um sistema como esse para funcionar: a Delta gastou US$ 50 milhões na implementação da tecnologia.
A Associação Internacional de Transporte Aéreo (IATA, na sigla em inglês) determinou que, a partir de junho de 2018, companhias aéreas e aeroportos de todo o mundo tenham sistema de rastreamento de bagagem para diminuir a ocorrência de perdas e extravios. Pode ser que, com isso, o RFID passe a ser mais utilizado. Mas, certamente, será necessário padronizar tudo isso (já pensou a confusão que vai ser se cada empresa adotar uma tecnologia diferente?), logo, esse prazo poderá ser ampliado.
Diante disso, o negócio é continuar fazendo promessas para o santo protetor das bagagens. Tomar alguns cuidados também pode ajudar a diminuir os riscos. Um deles é evitar fazer checkin ou despachar bagagem em um momento muito próximo do horário de embarque.
Nas conexões, é uma boa ideia, se possível, ter um intervalo de tempo longo (pelo menos de duas horas) entre o desembarque e o embarque no voo seguinte, principalmente se o aeroporto for muito movimentado. Assim haverá mais tempo para a transferência de volumes entre os voos.
Em alguns casos, a bagagem não é transferida para o próximo voo, portanto, você tem que retirá-la na esteira e despachá-la novamente no aeroporto de conexão. Por isso, certifique-se com a companhia aérea como vai ser esse processo.
No despacho da bagagem, verifique se o funcionário colocou a etiqueta correta (com o destino certo). Se houver etiquetas velhas coladas ali, tire-as para evitar confusão. Verifique também os limites de peso que a bagagem teve ter em cada país que você passar. Às vezes a mala fica retida em um aeroporto de conexão por ter peso ou dimensões fora do tolerado ali.
Cole fitas coloridas, adesivos ou qualquer adereço que permita diferenciar a sua bagagem. Desse modo, você terá mais facilidade para identificá-la na esteira e diminuirá as chances de outra pessoa pegá-la por engano.
Não demore para chegar à esteira e verifique com atenção se a sua bagagem deve mesmo aparecer ali. Alguns aeroportos direcionam bagagens fora do padrão (como mochilas cargueiras ou caixas) para esteiras diferentes.
Como nem mesmo todos os cuidados do mundo são suficientes para zerar as chances de perda ou extravio, siga a velha recomendação de não colocar itens de muito valor na bagagem a ser despachada. Manter uma muda de roupa ou itens de uso pessoal na bagagem de mão vai diminuir os seus transtornos caso o pior aconteça.
Ah, sim: os mais preocupados ou traumatizados podem ainda recorrer a um rastreador de bagagens, como o Trakdot. Por usarem GPS, dispositivos do tipo permitem que você rastreie a mala via smartphone. Você só precisa verificar se os custos compensam o uso do equipamento.